Jornais, Revistas e Sites

Portal IBM

 

 

 

Parece que os esquecimentos se tornaram comuns, e não ficam restritos aos mais velhos. Só que é muito menos angustiante justificar as falhas de memória dos mais jovens ou dos jovens adultos do que dos mais velhos.

 

São tantos as interesses e apelos que a garotada perde mesmo o foco, ficando mais dispersiva. Os adultos jovens não ficam atrás: a sobrecarga de tarefas e responsabilidades, o cansaço pelo pouco dormir, a má alimentação decorrente da correria, são, em geral, os responsáveis, o que da para pressupor que, passada a fase de estresse, tudo melhora.

 

Mas, para os mais velhos, esquecer-se de pagar uma conta, de dar um recado ou de onde guardou as chaves ou, ainda, ter dificuldade de concluir um pensamento por causa da palavra ou expressão que lhe escapou da memória, toma outra dimensão. Tende-se a associar logo ao envelhecimento e vem à sensação de incapacidade e o temor pelas doenças degenerativas.

 

Mitos e verdades


A médica geriatra e gerontóloga Tania Guerreiro, professora da UnATI – Universidade Aberta da Terceira Idade da UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, explica que o envelhecimento predispõe ao esquecimento por causa das mudanças biológicas, mas não existe uma relação obrigatória entre um e outro.

 

A médica alerta que os cuidados com a saúde são fundamentais para manter o cérebro em boa forma – Há condições que aumentam o risco de declínio cognitivo (ou seja, de diminuir a capacidade de aprendizagem, de solucionar problemas etc.) como insônia, má nutrição, uso excessivo de medicamentos, estresse intenso, depressão, doenças como diabetes e hipertensão arterial quando não tratados.

 

“No envelhecimento saudável não há perda de memória, embora as pessoas fiquem mais suscetíveis às falhas”, diz Tania e continua “o individuo saudável que mantem uma visão positiva sobre suas capacidades, expressa isso no bom desempenho da memória”.

 

A geriatra enfatiza que, além das condições físicas, os sentimentos e o ambiente externo interferem na memória, e brinca dizendo que “o afeto é a cola da memória e a indiferença sua maior inimiga”.

 

As mágoas e ressentimentos também são verdadeiras pragas para a memória, pois ocupam muito espaço na “memória de trabalho” que a médica define como a memória do “aqui e agora”, a memória “online”, que usamos a toda hora, que acessa as outras memórias. Ela funciona coma uma espécie de estação de trabalho, e explica:

 

“A memória faz parte de um processo que ativamos quando, por exemplo, conversamos. Ao mesmo tempo em que falamos, acionamos outros mecanismos que dividem a nossa atenção. Estamos, num só tempo, “captando” as reações do interlocutor, “fixando-nos” no que dizemos e ouvimos, “resgatando” fatos antigos e/ou recentes, “preocupando-nos” com o compromisso que temos a seguir, e tantas outras interferências mais”.

 

Quando se é jovem se consegue administrar até sete informações ao mesmo tempo. Depois dos 40, este processamento fica mais lento. Se dispersa com mais facilidade, a capacidade de atenção não é mais a mesma. Então, o esquecimento, muitas vezes, decorre de uma falha de atenção, ou seja, de ineficácia no gerenciamento de todo esse processo.

 

 

Matéria publicada no Portal IBM
Família 24 horas
Abril de 2006
por Maria Lucia

 

 

OBS: A entrevistada Tania Guerreiro é médica especializada em geriatria e gerontologia, mestre em Saúde Coletiva e doutora em Ciências Biomédicas. Criou e dirige a Oficina da Memória que está credenciada no Facilitando sua Vida, na seção “Terceira Idade”, em “Cursos diversos” na cidade do Rio de Janeiro/RJ.

 


Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *