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Desafios do ensino para a Terceira Idade – Reflexões sobre a questão cognitva

Dra. Tania Guerreiro e Equipe

A educação ao longo do curso da vida consiste em um importante elemento para a promoção do envelhecimento bem-sucedido. No desenvolvimento de práticas de ensino para as pessoas idosas, é necessário um olhar atento às peculiaridades cognitivas desse grupo, partindo-se do abandono de concepções ultrapassadas, representadas por uma visão romântica, extremamente otimista, das potencialidades cognitivas ou limitadas a uma estreita perspectiva em que o envelhecimento cognitivo é entendido como um grande acúmulo de perdas de funções e capacidades.

A concepção da teoria de curso de vida da psicologia do envelhecimento considera que o processo de desenvolvimento humano é multidirecional e multifuncional, ocorre ao longo de toda a vida e envolve perdas e ganhos, predominando as perdas na velhice. Comporta a noção de potencialidades e limites, assim como admite a presença de fatores que atuam na vida do homem e afetam sua cognição. Dificuldades marcantes nas capacidades de raciocínio e aprendizagem não podem ser compreendidas como próprias do envelhecimento e exigem uma investigação clínica para que se estabeleçam diagnósticos e cuidados adequados.

Idosos saudáveis apresentam perdas sutis nas capacidades de atenção, em alguns módulos da memória e na inteligência mecânica fluida, havendo repercussões na aprendizagem a serem consideradas como suscetibilidade às interferências, favorecendo a distração, ampliação do tempo necessário para a retenção e o resgate, predisposição para negligenciar informações relevantes e dificuldade para esquecer procedimentos que se mostrem ultrapassados.

Por outro lado, idosos que vivenciam um envelhecimento bem-sucedido desenvolvem mecanismos (compensação, otimização, seleção, automatização, construção de novas estratégias cognitivas) que amenizam ou superam, em parte, as perdas mencionadas. Ademais, existem funções/capacidades que não sofrem prejuízos, assim como outras que tendem a se aprimorar com o tempo, desde que estimuladas.

Desse modo, atividades educativas para a Terceira Idade devem ser planejadas e desenvolvidas, considerando as potencialidades e os limites dos idosos a fim de que possam contribuir, de fato, para a manutenção da autonomia e qualidade de vida e, portanto, para o envelhecimento bem-sucedido.

Trabalho publicado nos Anais do Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva – 2003

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